Visitar uma exposição de arte é um exercício de apreensão do mundo. Ao menos, de um recorte de mundo que a gente acessa no contato com a produção de um ou mais artistas. Porém, a impressão causada pelo conjunto das proposições artísticas – na ocupação do espaço e construção de sentidos entre elas – não é aleatória. Ela é parte de um método curatorial, ou seja, um processo de pesquisa, elaboração e criação executado por uma pessoa ou um grupo de pessoas, os curadores.
Na origem, a palavra curador vem do latim curare, que por sua vez chega ao português como curar – no sentido de “cuidar” ou “conservar”. Por um desses deslizes que fazem a gente por alguns segundos tocar na tecla errada, quase troquei “conservar” por “conversar”, o que não me afastaria dos trilhos dessa mesma reflexão: afinal, além de tomar conta, os curadores colocam artistas, obras e público em diálogo, não é mesmo?
Um caminho de descoberta do mundo
Embora nos últimos anos esse vocabulário tenha se popularizado, a profissão de curador, tal como a gente a conhece hoje em dia, é moderna, remontando ao século passado.
Para a curadora Nessia Leonzini, no texto de apresentação do livro “Uma breve história da curadoria”, de Hans Ulrich Obrist, o que os curadores de arte fazem “[…] é olhar a arte e pensar sobre a sua relação com o mundo. Um curador […] agrupa informação e cria conexões. Um curador tenta passar ao público o sentimento de descoberta provocado pelo encontro face a face com uma obra de arte. A boa exposição é feita com inteligência e inventividade; com um ponto de vista. O público recebe um produto pronto, onde tudo está em seu lugar, da iluminação ao prego na parede (quando há pregos). Para chegar à exposição montada, inúmeras e difíceis decisões foram tomadas, desde a escolha das obras (quando há obras) à posição e ao conteúdo de uma simples etiqueta.”
Sob vários sentidos, essa reflexão demonstra o quanto a curadoria de arte divide as suas definições com a curadoria de conhecimento, a metodologia criada e desenvolvida pela Inesplorato. Os curadores da Ines cuidam do conhecimento que circula nas empresas e, numa perspectiva mais ampla, na sociedade.
Mas o que significa cuidar do conhecimento? Do lado de cá, tem a ver com buscar, elaborar e compartilhar os insumos capazes de gerar ideias e decisões mais consistentes que produzam bons resultados para todos. Esses insumos são gerados a partir do estudo aprofundado de um tema através do cruzamento de diversas fontes – das pesquisas acadêmicas de ponta à sabedoria popular mais enraizada. Além disso, assim como o curador de arte de certa forma idealiza a experiência que será vivenciada pelo público das exposições, os curadores de conhecimento também desenham a entrega dos projetos – o encontro face a face, como bem disse Leonzini – de formas acessíveis e visualmente ricas e engajadoras.
Por essas e tantas outras convergências, a curadoria no campo das artes serve de inspiração para um olhar criativo e ampliado sobre o que há de mais humano em todos nós. Já o conhecimento curado pela Ines, de forma complementar, visa à transformação de realidades diversas. A aproximação entre esses campos se faz escutar na troca incessante entre compreensão da experiência estética e compreensão das complexidades do mundo. De ambos os lados, sempre uma questão de zelo. E pra você, qual é a sua relação com a ideia de curadoria?
Até breve,

Renato Barreto
Curador de Conhecimento