Publicado em 20/09/2022
Visitar uma exposição de arte é um exercício de apreensão do mundo. Ao menos, de um recorte de mundo que a gente acessa no contato com a produção de um ou mais artistas. Porém, a impressão causada pelo conjunto das proposições artísticas – na ocupação do espaço e construção de sentidos entre elas – não é aleatória. Ela é parte de um método curatorial, ou seja, um processo de pesquisa, elaboração e criação executado por uma pessoa ou um grupo de pessoas, os curadores.
Na origem, a palavra curador vem do latim curare, que por sua vez chega ao português como curar – no sentido de “cuidar” ou “conservar”. Por um desses deslizes que fazem a gente por alguns segundos tocar na tecla errada, quase troquei “conservar” por “conversar”, o que não me afastaria dos trilhos dessa mesma reflexão: afinal, além de tomar conta, os curadores colocam artistas, obras e público em diálogo, não é mesmo?
Um caminho de descoberta do mundo
Embora nos últimos anos esse vocabulário tenha se popularizado, a profissão de curador, tal como a gente a conhece hoje em dia, é moderna, remontando ao século passado.
Para a curadora Nessia Leonzini, no texto de apresentação do livro “Uma breve história da curadoria”, de Hans Ulrich Obrist, o que os curadores de arte fazem “[…] é olhar a arte e pensar sobre a sua relação com o mundo. Um curador […] agrupa informação e cria conexões. Um curador tenta passar ao público o sentimento de descoberta provocado pelo encontro face a face com uma obra de arte. A boa exposição é feita com inteligência e inventividade; com um ponto de vista. O público recebe um produto pronto, onde tudo está em seu lugar, da iluminação ao prego na parede (quando há pregos). Para chegar à exposição montada, inúmeras e difíceis decisões foram tomadas, desde a escolha das obras (quando há obras) à posição e ao conteúdo de uma simples etiqueta.”
Sob vários sentidos, essa reflexão demonstra o quanto a curadoria de arte divide as suas definições com a curadoria de conhecimento, a metodologia criada e desenvolvida pela Inesplorato. Os curadores da Ines cuidam do conhecimento que circula nas empresas e, numa perspectiva mais ampla, na sociedade.
Mas o que significa cuidar do conhecimento? Do lado de cá, tem a ver com buscar, elaborar e compartilhar os insumos capazes de gerar ideias e decisões mais consistentes que produzam bons resultados para todos. Esses insumos são gerados a partir do estudo aprofundado de um tema através do cruzamento de diversas fontes – das pesquisas acadêmicas de ponta à sabedoria popular mais enraizada. Além disso, assim como o curador de arte de certa forma idealiza a experiência que será vivenciada pelo público das exposições, os curadores de conhecimento também desenham a entrega dos projetos – o encontro face a face, como bem disse Leonzini – de formas acessíveis e visualmente ricas e engajadoras.
Por essas e tantas outras convergências, a curadoria no campo das artes serve de inspiração para um olhar criativo e ampliado sobre o que há de mais humano em todos nós. Já o conhecimento curado pela Ines, de forma complementar, visa à transformação de realidades diversas. A aproximação entre esses campos se faz escutar na troca incessante entre compreensão da experiência estética e compreensão das complexidades do mundo. De ambos os lados, sempre uma questão de zelo. E pra você, qual é a sua relação com a ideia de curadoria?
Até breve,
Curador de Conhecimento
Sim, a curadoria de conhecimento é bastante fundamentada na coletividade. De todas as etapas do nosso método, são poucas as que precisam da individualidade. Os momentos de pesquisa e análise, por exemplo, são individuais, mas culminam num processo super coletivo, que é a elaboração. O trabalho em grupo aqui na Inesplorato é uma grande verdade
Visitar uma exposição de arte é um exercício de apreensão do mundo. Ao menos, de um recorte de mundo que a gente acessa no contato com a produção de um ou mais artistas. Porém, a impressão causada pelo conjunto das proposições artísticas – na ocupação do espaço e construção de sentidos entre elas – não
Ao longo da história, a palavra curadoria sempre esteve ligada, de maneira mais ou menos óbvia, à ideia de cuidar das pessoas. Seja na figura dos servidores públicos na Roma Antiga que zelavam pelo povo ou, em tempos menos remotos, nos profissionais do mundo da arte responsáveis por cuidar da relação entre artista e seu