Publicado em 20/09/2022
Ao longo da história, a palavra curadoria sempre esteve ligada, de maneira mais ou menos óbvia, à ideia de cuidar das pessoas. Seja na figura dos servidores públicos na Roma Antiga que zelavam pelo povo ou, em tempos menos remotos, nos profissionais do mundo da arte responsáveis por cuidar da relação entre artista e seu público.
Hoje, o uso mais comum — e talvez mais banalizado — aparece na figura do curador de conteúdo. É gente “curando” livros, filmes, séries, podcasts e todo tipo de conteúdo na tentativa de aliviar a ansiedade pelo consumo de informações. Nesse sentido, é cada vez mais comum igualar o termo curadoria ao ato de filtrar informações para supostamente ajudar o outro a se encontrar.
Para nós, que desde 2010 lidamos com a treta do excesso de informação, preservar a ideia de cuidado no centro do conceito de curadoria é a chave para que o filtro seja diferente de uma seleção abstrata, feita a partir do gosto de quem escolhe. Como definir os critérios para filtrar informações? Uma vez filtradas, como dar sentido a essas informações? E mais, como compartilhar aprendizados com outras pessoas? Essas são perguntas que fazem parte do dia a dia dos curadores de conhecimento.
Pela ótica das empresas, esses questionamentos também atravessam o trabalho de profissionais que, preocupados em tomar melhores decisões de negócios, se veem afogados em um mar de relatórios, pesquisas, dados e notícias.
Pensando nisso, dividimos aqui 5 boas práticas para que você, sua equipe e sua empresa possam criar uma relação mais saudável com o universo do conhecimento.
Este pode ser um primeiro passo para encontrar soluções. Faça uma análise do momento do negócio, da equipe e da sociedade como um todo. A partir desse diagnóstico, retenha as respostas para as seguintes questões: quais são os desafios mais latentes que você enfrenta no trabalho hoje? Quais temas e frentes de conhecimento merecem a sua atenção? Quais são as decisões que você precisa tomar e não se sente preparado para isso?
Lembre-se de que nem sempre você terá as melhores respostas para essas perguntas. Por isso, busque entrar em contato com aquilo que até então “você não sabia que não sabia” trocando com colegas de time e até com profissionais de outras empresas. Selecione até 5 dessas necessidades de conhecimento e mantenha-as no radar.
A melhor informação que você pode buscar hoje, tendo em mente desafios de negócio, é aquela que te ajuda a lidar com os desafios mapeados no exercício anterior. Ao invés de se render à lógica da produtividade e sair clicando em todo e qualquer conteúdo que aparecer na sua frente, use esses desafios como filtros para guiar seu consumo de informações. Toda vez que você se deparar com um conteúdo, pare e reflita: isso atende à necessidade de conhecimento que busco suprir no momento?
Ao consumir informações, é preciso muito cuidado para que vieses e achismos não se sobreponham à confiabilidade do conhecimento científico. Em tempos de incerteza, fontes oficiais e especialistas nunca foram tão necessários. Que tal substituir “eu acho” por evidências com embasamento crítico para pautar decisões de negócio? Para furar a sua própria bolha, faça um exercício ativo de buscar contrapontos às convicções que rondam o negócio em que você atua. Além disso, tente incluir perspectivas de diferentes áreas de conhecimento para enriquecer seu repertório.
Sabe aquela sensação de não saber nada de concreto sobre um assunto, mesmo depois de ter lido muito sobre ele? Isso acontece quando absorvemos informações sem criar pontes. Curadores de conhecimento não levam às pessoas informações soltas, mas, sim, trabalham no sentido de desenvolver nexos entre elas.
Uma proposta de exercício para ajudar a criar essas pontes: liste em uma folha bem grande uma série de informações relacionadas aos desafios do seu trabalho no momento. Depois converse com um colega sobre elas e tente encontrar correlações. Quais conclusões você chega a partir de tudo que coletou? Escreva em outra folha frases que te ajudam a materializar e organizar o que, de fato, você aprendeu.
Compartilhe o que foi aprendido conversando com as pessoas, e não apenas enviando links e relatórios. As pessoas estão exaustas, lembre-se disso.
Nesse sentido, temos uma sugestão para esse momento de grande troca de informações: convide um colega de trabalho para uma conversa on-line em que você possa contar o que tem aprendido. Exercite o diálogo estando aberto a ouvir as contribuições do outro lado. Depois você pode até mandar links, mas sem dúvida a conversa será muito mais potente.
Esperamos que, ao colocar esses aprendizados em prática, você possa se conectar à essência do “cuidar” por trás do conceito de curadoria. Em outras palavras, cuidar do seu repertório e da sua equipe para lidarem com a insegurança que surge em meio ao excesso e à incerteza. Essa jornada é mais complexa, mas a gente garante que vai valer a pena. Vamos nessa?
Até mais,
Curadora de Conhecimento
Sim, a curadoria de conhecimento é bastante fundamentada na coletividade. De todas as etapas do nosso método, são poucas as que precisam da individualidade. Os momentos de pesquisa e análise, por exemplo, são individuais, mas culminam num processo super coletivo, que é a elaboração. O trabalho em grupo aqui na Inesplorato é uma grande verdade
Visitar uma exposição de arte é um exercício de apreensão do mundo. Ao menos, de um recorte de mundo que a gente acessa no contato com a produção de um ou mais artistas. Porém, a impressão causada pelo conjunto das proposições artísticas – na ocupação do espaço e construção de sentidos entre elas – não
Ao longo da história, a palavra curadoria sempre esteve ligada, de maneira mais ou menos óbvia, à ideia de cuidar das pessoas. Seja na figura dos servidores públicos na Roma Antiga que zelavam pelo povo ou, em tempos menos remotos, nos profissionais do mundo da arte responsáveis por cuidar da relação entre artista e seu