Após dois anos de serviço militar, finalmente o BTS está de volta. Um evento que é esperado por milhões de fãs que sonham com o retorno dos sete membros em um palco juntos. E o Brasil não está de fora.
À primeira vista, o K-pop pode parecer um fenômeno restrito a um nicho de fãs. Entretanto, se olharmos com mais atenção, é possível perceber como ele atravessa todo o Brasil.
O fenômeno do consumo da cultura coreana, conhecida como Hallyu, vem ganhando forças globalmente. E para não ficar de fora, o Brasil é um dos protagonistas em consumir conteúdo estrangeiro. Segundo Ministério da Cultura, Esporte e Turismo, em 2020, o Brasil foi o terceiro país do mundo e primeiro nas Américas que mais consumiu k-drama durante a pandemia.
E como o Brasil transforma o que consome?
Ao contrário de outros mercados, aqui a cultura coreana não é apenas consumido. Ele é tropicalizado. Misturado. E reescrito com afeto.
Três exemplos ajudam a entender essa lógica:
- Alcione cantando em coreano: Uma das maiores vozes do samba brasileiro (e, para muitos, a própria rainha) surpreendeu ao homenagear um dorama cantando em coreano, idioma que, segundo ela, é também “cheio de paixão”. A Marrom escreveu em seu Instagram: “Em que mundo eu não seria fã de K-drama?”
- Além do Guarda Roupa: Série brasileira que traz a conexão (literal e figurativa) do Brasil, especificamente, o Bom Retiro, com a Coreia. O que envolveu a surpresa de muitos é que a HBO Max realmente trouxe um idol de kpop, ex-membro do grupo Stray Kids, para atuar dentro da série.
- K-drama dentro da novela das sete: “Volta por Cima” traz uma personagem que ama k-drama e mostra ela assistindo “Pétalas de amor” como parte da história. A autora da novela disse que era o sonho dela trazer a cultura amarela para dentro das telas.
Esses exemplos não são exceção. Eles revelam algo essencial sobre o Brasil: nossa cultura é feita de sobreposições. De histórias que chegam e ganham novo sentido. De expressões que não negam o que vem de fora, mas o atravessam com nossos próprios afetos, idiomas e códigos.
Entendi. Mas você pode me dar um exemplo concreto?
Claro! Esse movimento simbólico também se expressa no espaço urbano. Bairros como a Liberdade, em São Paulo, historicamente ligados à imigração japonesa, hoje acolhem novas camadas de referências asiáticas, especialmente coreanas. Os tais “produtinhos coreanos” fazem filas pela Rua da Glória. A Liberdade virou vitrine da Ásia pop e isso não se trata de apagamento, mas de sobreposição.
Mistura, tradução e brasilidade
Para as ARMYs, fandom do BTS, o retorno aos palcos é aguardado para 2026. Enquanto isso, o Brasil segue fazendo o que sabe melhor: transformar encontros culturais em novas formas de ser, sentir e contar quem somos. Porque talvez nossa brasilidade esteja justamente nisso, em traduzir o mundo, à nossa maneira.
Essa reflexão é uma das várias que temos aqui na Inesplorato. No nosso podcast Insurgentes, falamos mais de como o Brasil é um composto de várias lentes. Do país do futuro ao vira-lata.
E você, já percebeu como o Brasil ressignifica o que consome? Que outras traduções simbólicas fazem parte do nosso dia a dia?
Até a próxima!
