O potencial de ferramentas e conteúdos baseados em inteligência artificial tem alcançado públicos até então alheios a esse debate. Nas últimas semanas, do ChatGPT à foto fake do Papa usando uma jaqueta puffer, as novidades chegaram a galope. Diante de tanta disrupção, as duas rotas mais comuns foram o encantamento ou o medo. 

Mas as emoções em torno dessas e de outras novidades da IA podem distrair de outro debate: por mais estranhas ou assustadoras, essas tecnologias já estão sendo pouco a pouco assimiladas sem a gente sequer tomar consciência de riscos e benefícios. Ou seja, o paradoxo de uma transformação que é, ao mesmo tempo, radical e silenciosa, alimentada pelo constante desejo humano de delegar tudo – até a nossa própria capacidade de fazer escolhas – às tecnologias baseadas em algoritmos. 

Esse tema foi pincelado recentemente em meio à programação do SXSW 2023: em uma das falas mais aguardadas do evento, a futurista Amy Webb afirmou: estamos entrando numa nova era da internet em que a nossa interação com a IA será de completa absorção, alimentada por informações de qualquer fonte ou situação. Um cenário perfeito para o que ela chamou de “AIsmose” (expressão formada por “AI”, de inteligência artificial, e “osmose”, o conceito da biologia). 

Em sentido coloquial, osmose pode significar uma absorção quase automática (e até mesmo acrítica) de algo. Assimilar algo por osmose, por exemplo, acontece quando alguém aprende a fazer algo sem gastar energia ou precisar agir de forma intencional ou consciente para que aconteça esse aprendizado. 

A partir disso, o que então pode estar no horizonte dessa revolução silenciosa?

Um novo sentido para as nossas escolhas

Imagine a IA sendo absorvida por osmose no seu dia a dia. Segundo Webb, essa intrusão lenta e gradual coloca para a humanidade outra dicotomia, agora entre pessimismo e otimismo: no pior cenário, viveremos um aumento das desigualdades digitais; no melhor cenário, nossas vidas serão facilitadas a ponto de nem precisarmos mais dedicar tempo e energia para pensar, definir e concretizar os nossos desejos. Afinal, essa AIsmose conseguirá fazer por nós o que a gente nem vai saber que precisa. 

Aqui na Ines, cenários como esse fizeram com que a gente se debruçasse em um novo estudo contínuo sobre a algoritmização do consumo e da infiltração da IA nos nossos desejos e escolhas cotidianos. Uma “intrusão psíquica”, nas palavras da professora e pesquisadora Shoshana Zuboff (Harvard Business School). 

Num futuro muito próximo, o processo humano de decisões de compras poderá ser delegado a algoritmos de compras capazes de realizar transações inteiras e buscar soluções para todas as frustrações que podem acontecer na jornada de compra e consumo de nós, consumidores humanos. Esses agentes de compras vão identificar e, mais do que isso, antecipar as nossas necessidades – e de modos mais certeiros e sofisticados do que nenhum ser humano seria capaz de conseguir. 

Pode até soar coisa de ficção científica, algo distante, mas aí está o pulo do gato: isso não vai acontecer “do nada”. Pelo contrário: aos poucos, já estamos condicionando o consumo às facilitações de comparadores e buscadores alimentados pelos nossos dados, entre outras tecnologias. Muitas vezes, sem prestar atenção, ou seja, por osmose. 

Então, entre o encantamento e o medo, o que devemos fazer é tomar consciência desses processos, a partir de perspectivas individuais e coletivas, e analisar criticamente o que se ganha e o que se perde nesse jogo entre inteligência humana e inteligência artificial. Afinal, esse bonde já partiu. 

Se você acredita como a gente na importância desse tema, escreve pra gente e falamos mais sobre como podemos ajudar você e a sua empresa em mais uma transformação!