Os primeiros resultados do Censo 2022 apontam que a cidade maravilhosa perdeu mais de 100 mil habitantes na última década. Entre os motivos dessa queda estão os problemas de violência, crises de gestão pública, envelhecimento da população e, essencialmente, problemas econômicos. Desde 2010 nós estudamos o Rio de Janeiro dentro do nosso projeto contínuo chamado Culturas Brasileiras, e nesse período acompanhamos a mudança brusca que o mercado local passou. No começo da década, as empresas estavam sedentas por conhecer mais o Rio e se beneficiar dos mega eventos que estavam por vir. Mas logo que as Olimpíadas se encerraram, o momento virtuoso arrefeceu e as dificuldades em relação à capital fluminense se tornaram muito acentuadas.
O Rio é um mercado tradicionalmente desafiador para as empresas
Quem é de fora tem dificuldades de entender a cultura local; quem é de dentro e entende mais o ecossistema da cidade não dá conta de alavancar a economia e melhorar o bolso dos cariocas. Certamente a perda de população do Rio de Janeiro é em boa parte explicada por um mercado de trabalho que passou muito tempo enfraquecido. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação da cidade, a média de taxa de desemprego entre 2002 e 2022 ficou em 9,3%. Em 2023, a taxa média ficou em 9,1%. Como comparação, podemos falar da capital Campo Grande (MS), que teve um crescimento populacional de 14,3% e terminou 2023 situação de pleno emprego.
Um levantamento feito pela Delloite deste ano aponta que aumentar vendas (76%) e melhorar margem de resultados (72%) são as principais dificuldades de empresas que atuam no estado do RJ e na capital. Duas barreiras que têm relação direta com a cultura carioca. Quem vive no Rio é obstinado a comprar sempre pagando pouco. O bolso curto influencia esse comportamento, mas as tradições locais não podem ser ignoradas. Cariocas são vítimas de sua “fama de malandro”: no medo de serem passados para trás, eles sentem que precisam sempre estar um passo à frente. Na hora de comprar, duvidam sempre das ofertas, desconfiam de quem vende, procuram lugares onde vão se sentir seguros de que estão fazendo o melhor negócio.
Caminhos para o futuro
Uma cidade com mais de 6 milhões de habitantes, com a exuberância do Rio de Janeiro, tinha tudo para ser um polo efervescente de negócios, mas cada vez mais essa não é a realidade. Para mudar isso, além dos problemas de gestão pública, é preciso acontecer uma mobilização das empresas para entender com muito mais profundidade a cultura, a história e a sociedade carioca para que soluções sejam criadas de modo mais certeiro.
É importante dizer que o não crescimento da população em um espaço com tanta pressão não é necessariamente uma má notícia. Crescimento não pode ser confundido com sucesso. Mas os motivos pelos quais isso está acontecendo são muito problemáticos e pedem ação urgente para a mudança. Empresários da cidade relatam dificuldade de acesso a capital financeiro e dificuldade de contratação de mão de obra qualificada para que possam alavancar negócios. Essas, por exemplo, são esferas em que empresas de grande porte podem atuar. Programas de crédito empresariais e educação corporativa são movimentos estratégicos para serem executados e que podem surtir efeito direto na crise carioca. Vamos nessa?