A riqueza e a potência do conhecimento plural

Publicado em 27/09/2022

“Comprovado cientificamente”. A gente está sempre usando a ciência para validar muitos dos nossos argumentos, não é mesmo? Seja ao analisar uma bula de remédio, validar a importância de uma ideia ou projeto e até mesmo numa discussão na mesa de bar, logo jogamos um dado estatístico ou mencionamos algum relatório, experimento ou teoria para dar aquela legitimidade ao que a gente fala.

Nos nossos projetos de curadoria de conhecimento aqui na Ines isso não é diferente! Temos a ciência como a nossa fiel companheira, nos ajudando a explicar, desenvolver e provocar senso crítico na construção de projetos e estudos, independentemente das temáticas. Mas ela, a ciência, não é a nossa única aliada; como bem diz o ditado popular, uma andorinha sozinha não faz verão (e ainda bem!). O diálogo entre diferentes formas de conhecimento e saberes dá match e produz projetos surpreendentes. 

Sem querer colocar a carroça na frente dos bois, por que colocamos o conhecimento científico como absoluto e superior? Bom, eu poderia fazer um textão e a gente poderia pensar juntos sobre como essa relação se dá desde a nossa colonização, mas para não me alongar, por enquanto vamos juntos pensar em dois aspectos:

1. O local em que o conhecimento científico é produzido 

O conhecimento científico é produzido dentro dos muros das universidades e instituições científicas, espaços a que, infelizmente, nem todo mundo tem ou pode ter acesso. Locais estes em que também há um imaginário social cheio de poder simbólico. Isso faz com que tudo o que é produzido ali seja inquestionável e que, por outro lado, o que é produzido fora desses muros seja invisibilizado e inferiorizado dentro de uma hierarquia do que é ou não é considerado conhecimento. 

2. A metodologia científica utilizada 

O conhecimento científico é formado quando se pretende entender e explicar fatos, eventos ou acontecimentos do mundo. Assim surgem ideias, hipóteses são levantadas, experienciadas, discutidas e repensadas através de metodologias científicas. Até chegar aos resultados, revisados por especialistas da área que tensionam e questionam para ver se tudo realmente faz sentido, existe um processo bem longo, racional e técnico – e é por essa razão que ele gera tanta confiança. 

Nem tudo que reluz é ouro

Mas isso não quer dizer que a ciência não erre ou, ainda, que não possa ser questionada – e a gente já falou sobre isso aqui. Muito pelo contrário, o questionamento faz parte do seu modus operandi! (E uma ressalva importante: diante do crescente movimento negacionista e anticientífico, segundo o qual a eficácia de vacinas é questionada e a Terra é tida como plana, é fundamental reafirmar que o conhecimento científico deve ser questionado, mas dentro dos seus parâmetros, baseado em fatos e não em opiniões ou questões puramente individuais).

Dito isso, a intenção aqui não é desbancar o conhecimento científico, pois ele é válido e essencial. Mas não pode ser considerado universal ou o único tipo de conhecimento importante, pois isso exclui e subalterniza outras formas de conhecimentos e saberes, as quais também são fundamentais para a nossa compreensão do mundo. 

Isso porque o conhecimento é plural, complexo, diverso e produzido em vários espaços. Tendo consciência disso, nos nossos estudos utilizamos, sim, pesquisas acadêmicas, teorias e dados estatísticos, mas sempre em diálogo com outros conhecimentos possíveis. Aqueles que surgem em outros espaços, a partir de outras perspectivas, vivências e cosmologias. 

Os exemplos são vários: em um projeto sobre o México, por exemplo, usamos a loteria mexicana – uma espécie de bingo em que no lugar dos números há imagens – para explicar aspectos políticos, culturais e econômicos do país. Mas isso também acontece de forma mais corriqueira, quando desbravamos o universo dos memes ou vídeos do Tiktok que estejam fazendo sucesso para explicar hábitos e práticas de consumo. Ou, ainda, quando o ato de trançar o cabelo e os penteados produzidos por trancistas se integram na explicação de aspectos sócio-históricos da sociedade brasileira em um treinamento para lideranças sobre diversidade e inclusão. Tá, só mais um exemplo: quando dialogamos com a cosmologia de uma etnia indígena para repensar nossas relações com o trabalho e as dimensões da utilidade da vida.

O que tudo isso aponta é a importância de compreender que o conhecimento é múltiplo, especialmente em uma sociedade tão multicultural como a nossa. Por isso, o que cabe no conceito de ciência é toda essa multiplicidade. O que não pode caber é o epistemicídio que invisibiliza, desqualifica e oculta saberes ao tomar apenas o conhecimento científico como válido. Então, fica a pergunta: como você valoriza o conhecimento ao seu redor?

Até mais!

PUBLICADO POR

Elisa Hipólito

Curadora de Conhecimento

Mais sobre

PONTOS DE VISTA
PONTOS DE VISTA

O que a queda de população no Rio de Janeiro nos diz sobre o mercado carioca?

Os primeiros resultados do Censo 2022 apontam que a cidade maravilhosa perdeu mais de 100 mil habitantes na última década. Entre os motivos dessa queda estão os problemas de violência, crises de gestão pública, envelhecimento da população e, essencialmente, problemas econômicos. Desde 2010 nós estudamos o Rio de Janeiro dentro do nosso projeto contínuo chamado

Destaque

Sua marca está pronta para “O País do São João”?

Muitas décadas de “País do Carnaval” fizeram das marcas que atuam no mercado brasileiro grandes experts em estratégia, planejamento, comunicação e todo tipo de ações para atuar na folia carnavalesca. Desde campanhas publicitárias premiadas a produtos desenvolvidos para esse período do ano, existe uma grande expectativa para aproveitar as oportunidades que o carnaval oferece nas

Destaque

Fogo, fogo, fogo!!!

Está mais do que na hora de o mercado se ligar que estamos todos perdidos no meio da fumaça da IA. Em janeiro de 2022 começamos aqui na Ines um novo estudo contínuo sobre algoritmização do consumo. Percebendo os avanços da IA, a gente enxergou que não vai demorar muito para que as compras passem

ESPECIAIS

O que é uma boa liderança em 2024?

Em cada projeto da Inesplorato, nós, curadores de conhecimento, temos a oportunidade de testemunhar de perto diferentes práticas de nossos clientes (tanto aquelas evidentes quanto as silenciosas) e reconhecer a diferença que uma boa liderança traz para a qualidade das discussões e para o rumo dos negócios. Mas afinal, o que é uma boa liderança?

O QUE FAZEMOS?

Curadoria de conhecimento é a nossa especialidade. Ajudamos empresas a gerar ideias e tomar decisões mais certeiras, colocando a sociedade sempre em primeiro lugar. Nossas entregas ganham forma a partir das necessidades de nossos clientes, variando entre diversos formatos: estudos, documentários, experiências imersivas e bases de dados. Fazemos isso a partir de um olhar crítico e profundo sobre a produção contínua e cada vez mais abundante de informações.